Dicas de leitura VIII

              Em 1986, com doze anos, eu frequentava a biblioteca pública de são bernardo na jurubatuba, pois estudava no colégio São José, bastava descer a doutor Flaquer até a jurubatuba, e já estava na Monteiro Lobato, tinha tantos livros à disposição que eu não fazia idéia de qual ler, na época eu não tinha como fazer uma pesquisa na world wide web, pois não tínhamos este tipo de acesso ainda por aqui, então criei um critério de escolha de livros da seguinte forma: No balcão de atendimento ficavam os livros devolvidos há pouco para serem repostos ao seu devido local, então eu pensei: se alguém acabou de ler é porque deve ser interessante, então eu fuçava dentre os "últimos lidos" e procurava algum livro que de alguma forma me despertasse o interesse pelo título, capa ou prefácio. Foi com estas regras que conheci Arthur Charle Clarke, Jean Piaget, Homero, Hermann Hesse (o qual nesta época fiz até uma música de seu poema: "De passagem" que disponibilizei como conteúdo extra do cd "Easter Eggs" do Eclipse Oculto recuperada de uma fita k7 que gravei em 86 mesmo! e que pode ser ouvida um trecho neste vídeo publicitário: http://www.youtube.com/watch?v=nnHKNGOD7g0 aos 2 minutos mais ou menos) e Franz Kafka. Este último foi muito curioso porque eu o conheci pelo livro "O castelo", cujo nome e a espessura do livro haviam me chamado muito atenção por ter quase 400 páginas, então certo dia o levei para lê-lo. Nesta época ajudava meus pais tomando conta do atendimento no balcão da Rotisserie Cantinho das Delícias, e fora do horário de almoço o movimento era muito baixo, então eu me sentava atrás do balcão e aproveitava para fazer minhas leituras no período da tarde, quando os clientes eram muito esporádicos. Enquanto lia o livro, fui surpreendido por meu pai: "Filho o que você está lendo?", Então lhe mostrei, e ele se indignou, ficou uma fera! Disse que no seminário onde estudava, as obras de Kafka eram proibidos, e que eu deveria ler outra coisa, pois se era proibido em uma escola religiosa certamente não me acrescentaria nada de bom. Mas eu tinha doze anos de idade, adolescente, dizer que algo é proibido é a mesma coisa de dizer: Nossa é muito louco! Leia! Leia! Leia!
              Ainda mais nesta época, eu estava à descobrir o mundo, com isso ele me deu a sensação de que eu poderia descobrir algo que ele não sabia! Já que ele foi proibido de ler! Foi um estímulo e tanto para ler mais de Kafka! Escondido é claro!
              Depois de ler "O castelo", li "Metamorfose" e "Josefina, a cantora". Metamorfose me chamou muito atenção o título, pelo fato de eu conhecer e curtir na época a música "Metamorfose ambulante" de Raul Seixas, então de alguma forma, para mim na época parecia um livro bem rock'n'roll! E não deu outra, entrei de cabeça no personagem Gregor que passou por uma metamorfose, como todos sabem, se transformando numa barata, um livro recheado de críticas sociais para a época, e ainda atuais nos dias de hoje. Curiosamente eu me identifiquei demais com o personagem pelo fato de eu estar passando pela adolescência. Com certeza o livro influenciou minha vida, minhas opiniões, reflexões e ajudou a me tornar o que eu sou hoje! Vejo que muitas pessoas hoje em dia se sentem e vivem como o Gregor, muito triste! Isso tudo também devido ao sistema ao qual pertencemos, que ainda precisa evoluir muito! E só com muita cultura e conhecimento poderemos romper muitas dessas barreiras ao ponto em que nossa sociedade não permita mais tais discriminações, ao mesmo tempo em que devemos valorizar e agir de maneira coesa classificando de forma correta os valores de real importância, separando as convicções de crescimento e evolução da sociedade e humanidade dos eufemismos disfarçados em  falácias e apegos à valores supérfluos e efêmeros! Por fim, vale a pena ler, pois com certeza este livro irá sim, acrescentar cultura à medida que ele seja interpretado e compreendido como uma grande metáfora  das relações indiviuais e sociais!

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